Escrito por: Sites da Web - Educação - 10 de Setembro de 2015
Docentes da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro) em assembleia para definir greve.
Faltavam três meses para Renan Lopes, 28,
se formar em engenharia civil pela UFBA (Universidade Federal da Bahia)
e começar a carreira. A formatura ocorreria neste mês.
Mas a greve nas universidades federais,
que já passou de cem dias, fez com que ele perdesse uma promessa de
emprego. E agora corre o risco de perder a segunda. "As oportunidades
que estou perdendo me deixam indignado, porque o mercado está muito
difícil", diz, preocupado, o baiano de Jequié. Gabriel Lisboa Nakamura,
23, aluno da mesma instituição, também perdeu duas propostas de estágio
por causa da greve e conta que colegas seus perderam bolsas de monitoria
no período.
Como Renan e Gabriel, estudantes de
universidades federais pelo país enfrentam o 106º dia de greve,
completado nesta quinta-feira (10). A paralisação dos funcionários,
iniciada em maio, atinge 60 de 63 instituições, e seis institutos
federais, segundo a Fasubra (federação de sindicato dos servidores). Há
professores de braços cruzados em 37 universidades, informa a Andes
(sindicato dos docentes), e em quatro institutos federais.
O MEC (Ministério da Educação) diz que
procura uma solução e que "mantém diálogo com entidades". Além da falta
de aulas, serviços como bibliotecas, laboratórios e restaurantes
universitários estão fechados. Servidores e alunos da UnB (Universidade
de Brasília) relatam que na biblioteca, onde trabalham cerca de cem
funcionários, menos de dez estão em atividade. Na UFBA (Bahia), o local
está fechado. Já na UFSCar (São
Carlos), no interior paulista, nenhum serviço ligado ao setor
acadêmico está funcionando, diz o sindicato. Na UFTM (Triângulo
Mineiro), até os alunos interromperam as atividades.
"A secretaria não funciona, temos
problemas até para obter um histórico escolar. Apesar de o serviço de
limpeza ser terceirizado, há locais imundos. Fora a instabilidade na
grade escolar, com a greve parcial dos docentes", disse Wisner Freitas
Araújo, 23, aluno de matemática. Docentes dizem que o corte no orçamento
do MEC este ano teve impacto direto no cotidiano das faculdades. Foram
11% a menos de verba para custeio (contas de água, luz, terceirizados de
limpeza e segurança, por exemplo) e corte de 46% nos investimentos.
"Tivemos elevador parado por um mês por
falta de verba para conserto, arcondicionado quebrado sem reparo. Falta
reagente para laboratórios e até papel higiênico", disse Renata Vereza,
do sindicato dos docentes da UFF (Universidade Federal Fluminense). A
adesão não é total. Enquanto algumas instituições já encerraram a greve,
como a UFRJ, em outras a paralisação começou no mês passado, caso da
UFPR (Paraná).
Os servidores querem 27,3% de reajuste,
sob a alegação de repor perdas salariais dos últimos anos. Já rejeitaram
uma proposta de reajuste escalonado de 21,3%, a ser pago de 2016 a
2019, e agora avaliam uma nova proposta, de 10,8%, diluída em dois
anos, segundo Rogério Fagundes Marzola, coordenador¬ geral da Fasubra.
Docentes reivindicam no mínimo a
reposição da inflação. "É a pior situação em termos de falta de verbas
que as federais já enfrentaram", disse Paulo Rizzo, presidente da
Andes (entidade que representa os professores). Sérgio Nunes, do
Sintufscar (sindicato na UFSCar), diz que os serviços parados fazem
falta, mas que o corte de gastos é mais prejudicial.
OUTRO LADO
Procurado, o Ministério da Educação informou, em nota, que a greve "preocupa", "principalmente por conta dos alunos que estão sem aulas" e que o cronograma das instituições fica prejudicado. O MEC informou ainda que está disposto a dialogar e que se reuniu com entidades dos servidores e dos professores para discutir toda a pauta de reivindicações. Questionado pela reportagem, a pasta não comentou problemas estruturais citados por alunos e servidores nas federais. Também não falou sobre a abrangência das paralisações e se há previsão de calendário de reposição para as aulas perdidas.
Procurado, o Ministério da Educação informou, em nota, que a greve "preocupa", "principalmente por conta dos alunos que estão sem aulas" e que o cronograma das instituições fica prejudicado. O MEC informou ainda que está disposto a dialogar e que se reuniu com entidades dos servidores e dos professores para discutir toda a pauta de reivindicações. Questionado pela reportagem, a pasta não comentou problemas estruturais citados por alunos e servidores nas federais. Também não falou sobre a abrangência das paralisações e se há previsão de calendário de reposição para as aulas perdidas.
Para Maria Lucia Cavalli Neder,
presidente da Andifes, entidade que reúne reitores das federais, mesmo
com o aperto no cinto feito pelas universidades, algumas instituições
vão precisar de ajuda financeira extra do MEC para fechar as contas
deste ano. Ela não especificou quais são as instituições que precisarão
do socorro.
"Muitas universidades não terão nenhum
problema porque já fizeram planejamento desde o início do ano, reduzindo
terceirizados ou o uso de carros", afirma. O corte foi de 10% da verba
para custeio (como contas de água, luz e serviços terceirizados de
portaria e limpeza) e de 46% para investimentos (em obras).
Apesar da situação, Neder diz que o MEC
continua em "diálogo aberto" com as federais e que está analisando caso a
caso as situações prioritárias. Para a reitora, as reduções de verba
"são contingenciais, e não conjunturais" e "isso não vai influenciar na
vida e na normalidade das universidades".
RAIO¬X DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS DO PAÍS
150 mil
funcionários
1,05 milhão
de alunos matriculados na graduação presencial *
5.655
cursos de graduação presenciais *
150 mil
funcionários
1,05 milhão
de alunos matriculados na graduação presencial *
5.655
cursos de graduação presenciais *
ALGUNS CASOS DE INSTITUIÇÕES PARALISADAS
UFBA (Bahia)
Em greve desde 28 de maio; biblioteca fechada, mas alguns laboratórios e restaurante universitário funcionam; há relatos de alunos sem bolsa para monitoria;
UFBA (Bahia)
Em greve desde 28 de maio; biblioteca fechada, mas alguns laboratórios e restaurante universitário funcionam; há relatos de alunos sem bolsa para monitoria;
UFSCar (São Paulo)
Universidade no interior de São Paulo enfrenta fechamento da biblioteca e do restaurante universitário;
Universidade no interior de São Paulo enfrenta fechamento da biblioteca e do restaurante universitário;
UFF (Rio de Janeiro)
Em greve desde maio; professores da federal fluminense reclamam de estrutura precária, com elevadores e ar¬condicionado parados por meses por falta de manutenção, e até falta de papel higiênico
Em greve desde maio; professores da federal fluminense reclamam de estrutura precária, com elevadores e ar¬condicionado parados por meses por falta de manutenção, e até falta de papel higiênico
UnB (Brasília)
Docentes enfrentam dificuldades para trabalhar em laboratórios, que dependem de técnicos em greve
UFTM (Uberaba)Docentes enfrentam dificuldades para trabalhar em laboratórios, que dependem de técnicos em greve
Escala de revezamento no Hospital Universitário está mantida; paralisação atinge também estudantes, que questionam dificuldades em obter auxílio¬ moradia e valor da refeição no restaurante.
* Incluem todas as instituições federais de ensino (2013)
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