Depois o governo reclama da perda de apoio dos servidores
Com tamanho passivo, a irritação
dos servidores faz todo sentido. O governo ainda tem tempo de atender
minimamente a pauta dos servidores públicos, que é absolutamente justa, e
contar com o apoio desses formadores de opinião por ocasião do processo
eleitoral.
Antônio Augusto de Queiroz*
A lógica fiscalista e fazendária
adotada pelo governo da presidente Dilma em relação aos servidores públicos tem
sido a principal razão para a perda de apoio no interior do funcionalismo
público, que teve papel importante em sua eleição em 2010.
O primeiro aspecto a destacar é
que o reajuste salarial dos anos de 2013, 2014 e 2015 (no total de 15,8%) ficou
abaixo da inflação, assim como a correção da tabela do imposto de renda nesse
período, resultando em perda de poder aquisitivo.
O segundo aspecto diz respeito ao
não pagamento de causas ganhas judicialmente, muitas das quais já sumuladas
pela própria AGU, mas que, para não afetar o superávit primário, toma medidas
meramente protelatórias, aumentando a dívida do governo e deixando os
servidores profundamente irritados.
O terceiro aspecto se refere à
atualização dos benefícios como os auxílios alimentação, creche e planos de
saúde, assim como os valores de diárias, que, além de atraso na atualização, os
valores pagos aos servidores do Poder Executivo (que representa o maior
contingente) são em média a metade do pago em outros poderes e órgãos.
O quarto aspecto está relacionado
com indenizações criadas para fixar servidores em localidade de difícil acesso
ou em faixas de fronteiras, que o governo não regulamenta. A lei da indenização
de fronteira, por exemplo, foi publicada em setembro de 2013 e até o dia 7 de
abril, oito meses depois, ainda não tinha sido regulamentada.
O quinto aspecto tem a ver com a
omissão do governo em regulamentar a Convenção 151 da OIT, que trata da
negociação coletiva no serviço público, que aguarda projeto de lei propondo sua
regulamentação há anos.
O sexto aspecto diz respeito à
resistência do governo à votação no Congresso de qualquer matéria que implique
aumento de despesa ou perda de receita, como é o caso da PEC 555/06, que
colocaria fim ao confisco aos aposentados e pensionistas do serviço público.
Com tamanho passivo, a irritação
dos servidores faz todo sentido. O governo ainda tem tempo de atender
minimamente a pauta dos servidores públicos, que é absolutamente justa, e
contar com o apoio desses formadores de opinião por ocasião do processo
eleitoral.
(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação
do Diap.
Nenhum comentário:
Postar um comentário