domingo, 22 de julho de 2012

POR TRÁS DAS GREVES


A diluição do regime militar e da nova república conduziu o Brasil a um de seus mais medonhos momentos históricos. O “Novo Brasil” é o “país de futuro” de cabeça para baixo. Apenas se descortina miséria, opróbrio e indignação. Uma China sem ópio com seus dilemas multiplicados por dez. Uns rangem os dentes. Outros sentem ódio. Ínfima minoria resguarda a serenidade, a esperança e acredita em dias melhores. Nesse ambiente, surgiram conceitos ácidos, como arrocho salarial, sucateamento, “maracutaia” etc. Os trabalhadores, que só tem sua força de trabalho para vender, ou possuem muito pouco, agitam-se encurralados entre a rebeldia impotente dos condenados à terra e à violência da “burguesia reacionária”. Um pseudo-Estado constitucional compromete-se com a inviabilização da democracia e abriga um governo despótico, cujo sonho principal consiste em trocar a soberania da nação por quarenta dinheiros, “doados” por comanditários internacionais. O lema subjacente consigna: salvem-se os grandes e os que mandam; danem-se todos os que estão por baixo! O limite histórico se elucida: “barbárie sem civilização”...
Nesse contexto, os trabalhadores do campo e da cidade, os servidores públicos e demais assalariados dispõe de uma só arma: a greve. Esta aparece como recurso defensivo e ofensivo. Seu uso tem de ser intensificado a ponto de arriscar a própria eficácia. A comunicação cultural de massas incrimina os grevistas e ataca o “grevismo”, palavra que não consta nos dicionários. Os de cima se apavoram e acusam o “grevismo” como fator de anarquia e desobediência civil. Aliviam os ânimos com quimeras, “dando” correções salariais acima dos parâmetros governamentais. O presidente pretende ser implacável e “salvar a economia”. Eis uma imensa farsa, não fossem os dramas desumanos, que desandam em escala geométrica. De uma perspectiva sociológica, as greves não são nem negativas nem destrutivas. Elas revelam que o país está vivo e acumula energias para se transformar e se desenvolver. Talvez elas ressoem como um “grito no deserto”. Mas denunciam tanto os partidos da ordem, quanto os da oposição, inclusive os da esquerda e dos trabalhadores. Elas desmascaram os patrões, o capital e sua fonte de lucros. Resistem às manobras patronais e dão combate aos ardis dos que se aproveitam até do empobrecimento geral. Forçam o executivo, o legislativo e o judiciário a sair de suas tocas e a arcar com suas responsabilidades. Também emulam os mais humildes e oprimidos. Essas são funções sociais construtivas. A greve nunca eclode como pura manifestação corporativa. Ela é, por si mesma, uma demonstração de poder político real. O trabalhador da terra e o operário, ao pressionar por salários, ativam a solidariedade de classe e desencadeiam outras reivindicações que envolvem a influência do seu movimento social, a modernização técnica e maior produtividade.
Do mesmo modo, os servidores públicos, os professores, os estudantes, os funcionários das escolas, os bancários, os médicos, as enfermeiras, as auxiliares de enfermagem, os funcionários dos hospitais etc., todos se integram em processos que acarretam reforço da democracia e aceleração do desenvolvimento econômico. Lembram aos de cima, que atentam só para o lucro, a segurança, e o prestígio, que o Brasil é uma nação emergente que pode escolher entre a capitulação e a grandeza.

colaboração: Regina Miranda

por: Florestan Fernandes

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